sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Henry Sobel ( 1944 - 2019 )


O rabino Henry Sobel morreu hoje em Miami. Em 1975, Sobel se recusou a enterrar como suicida o preso político Vladimir Herzog, enfrentando a versão oficial das forças policiais que assassinaram o jornalista. Uma voz de coragem em tempos sombrios. Nesse país cada vez mais fascista, perdemos o humanista Henry Sobel. O rabino que se levantou contra a ditadura militar junto com Dom Paulo Evaristo Arns e Dom Hélder... Nomes que não devemos esquecer...


Gugu Liberato ( 1959 - 2019 )


Nasci nos anos 80 e cresci nos anos 90. A única diversão que tínhamos era a televisão e foi nela que eu ( e o Brasil inteiro ) conheceu o apresentador Gugu Liberato ( e seu rival Fausto Silva) . Domingo em família era isso, era uma troca de canal absurda para tentar acompanhar as duas emissoras. Não vou entrar no mérito se o programa do apresentador era ou não sensacionalista ( a entrevista com PCC fake, dentre outras pérolas ).

Pq, se falarmos sobre isso, teremos de falar de TODA a tv brasileira. Gugu cresceu em um Brasil cujos maiores apresentadores eram Flávio Cavalcanti , Hebe Camargo, Chacrinha e Silvio Santos, três dos maiores nomes da nossa televisão. Assistiu a guerra pela audiência entre Flávio e Chacrinha e através de Silvio, concluiu a sua formação na telinha.

Repúdio as piadas acerca de sua morte ( como tenho visto aqui ), hoje nos despedimos de duas pessoas. O Augusto, filho e pai de família, e do Gugu Liberato. O cara que marcou época na televisão brasileira e que, agora , se juntou aos grandes que ele cresceu assistindo ( Sílvio ainda está conosco) . É justo de dizer que, morrem com ele, o jornalismo ( que já andava mal) e boa parte da tv brazuca. Seu desejo em vida será realizado, terá os seus órgãos doados.

Vá em paz, Augusto !

Fique tranquilo, pq o Gugu já habita a história da nossa TV.

domingo, 27 de outubro de 2019

"Meu Nome é Dolemite" | Filme marca o reencontro de Eddie Murphy com o seu público


Sou fã do Eddie Murphy, sempre o considerei um grande ator mesmo tendo feito várias comédias durante a sua carreira. Mas, Murphy tinha se afundado em filmes ruins desde sua grande performance em Dreamgirls de 2006 que havia lhe rendido indicações em diversas premiações incluindo o Oscar. Como fã, era triste ver um grande ator como Eddie Murphy cada vez mais perdido em sua carreira apelando para projetos mal elaborados, assim como Nicolas Cage se perdeu. Mas, isso ficou no passado.


"MEU NOME É DOLEMITE ( EUA, 2019) " é a cinebiografia do humorista Rudy Ray Moore e seu alter-ego Dolemite grande astro da Blaxploitation , fenômeno do cinema americano dos anos 70 e padrinho do rap. Esse é o projeto que Murphy tentou levar as telas durante uma década e meia e, curiosamente, tem um paralelo de perseverança com a história de Rudy que alcançou a fama já na meia-idade e, vejam, estamos falando da América dos anos 70.


O personagem parece que foi feito para Eddie Murphy, seu descontentamento com a vida que leva em uma loja de disco e a confiança em seu talento que os outros insistem em menosprezar é nítido em cada olhar e gesto ao falar, reparem no brilho em seus olhos quando ele mergulha nas ruas de Los Angeles ao pesquisar a vida daqueles cidadãos que a cidade faz questão de esquecer, é dali que nasce seu alter-ego. Ou na cena em que Rudy , sentado em sua sala, finalmente cria uma de suas rimas, vemos um trabalho diferente de Murphy a cada instante.


É como se Murphy tivesse voltado a ter gosto pela atuação, a direção de Craig Brewer é precisa nesse sentido, Eddie Murphy não aparece exagerado como em "O Professor Aloprado 2 : A Família Klump ( EUA, 2002)" , Brewer dirige Eddie com o mesmo cuidado que teria ao segurar uma pedra preciosa. Aliás, não só ele, o elenco desse filme é incrível, de Mike Epps, Craig Robinson, Tituss Burgess, passando pela maravilhosa Da’Vine Joy Randolph como Lady Reed e a hilária ( e a mais debochada performance do ano) participação de Wesley Snipes como D’Urville Martin. Snipes está engraçadíssimo como o ator e diretor de Blaxploitation, a química dele e Murphy é surreal.


"MEU NOME É DOLEMITE ( EUA, 2019) " é um filme vivo e cheio de cores, o figurino é assinado pela fantástica Ruth E. Carter, a vencedora do Oscar desse ano por Pantera Negra ( EUA,2018). Tudo isso ao som de uma trilha sonora que retrata bem a época e conta com o swing do ator e cantor Craig Robinson ( A Ressaca, 2010) que merece todas as palmas. No final, Dolemite fala sobre esperança, confiança e perseverança essa é a mensagem dita a plenos pulmões ( e com muitos palavrões ) no último frame do filme ao seu público, o grande reencontro de Dolemite com seus sonhos e podemos dizer também, o reencontro de Eddie Murphy com o seu público... e como é bom reencontra-lo... e que volta triunfal, Eddie.

PS: A versão dublada conta com o trabalho de Mário Jorge Andrade , dublador oficial de Eddie Murphy desde os anos 80. Mário faz um grande trabalho nesse filme e vale a pena conferir.

terça-feira, 22 de outubro de 2019

As redes sociais e a síndrome da "vizinha fofoqueira"

Não sou de fazer isso mas, essa é a última.

Então, vamos lá:
Meu perfil sempre teve uma grande rotatividade, pessoas sempre vem e vão nessa página virtual ( como tudo na vida! ). Adicionam e um tempo depois me deletam ou eu as deleto devido a certos comportamentos que eu abomino ( preconceito de raça e classe social são os que mais me irritam). Seria pq resolvi não expor a minha vida pessoal nas redes e, por isso, as "pessoas" saem daqui frustradas por não saber o que acontece comigo ?

Não que eu seja famoso ou interessante ( acreditem, eu sei. Estou longe disso ! ), mas pra mim as redes sociais padecem da síndrome da "vizinha fofoqueira" que nunca perdia nada do que acontecia na rua. As redes sociais são isso, uma rua de um bairro qualquer onde as pessoas observam tudo, ou só a vizinha, ou, em alguns casos, uma grande mesa de bar onde todos falam ao mesmo tempo e vc tem a vontade de conversar com aquele(a) seu(sua) amigo(a) que está sentado(a) na ponta da mesa, mas não consegue pq o barulho da "falação" é ensurdesedor, até que um ou outro resolve chegar mais perto.

Nunca cheguei aos tais "mil amigos" nessa rede social, quanto mais "cinco mil", assumo, sou chato e irritante, porém jamais fui falso. Mas tanto aqui, quanto na vida real sou leal,fiel e relevo MUITAS coisas, por causa disso, amigos já me chamaram de bobo e "colegas" diziam que eu era "carente" ao confundir a minha boa intenção com as pessoas. Mesmo tendo recebido várias decepções, eu jamais deixei de ser educado com NINGUÉM. 
Conclusão: Vc nunca agradará a todos!

O fato é que, mesmo que a recípocra não tenha sido verdadeira em alguns caso, eu sempre lutei pelas pessoas que eu considero, fui e sou leal e fiel, vou relevando as coisas mas, quando desapego, é pra sempre. É um defeito meu? talvez sim. Eu assumo as consequências das minhas escolhas como sempre fiz. Isso não me faz menor e nem maior do que ninguém, mas estive lá, estendendo a mão.
Isso ninguém me tira.
Ah, se vc veio nesse blog "especular" sobre a minha vida, veio no lugar errado.
Abraços

terça-feira, 27 de agosto de 2019

MIB: Internacional diverte , mas é o mais fraco da franquia


MIB Internacional é o típico caso de projeto que parte de uma boa premissa e que se perde em sua execução. Referências aos filmes anteriores estão por toda parte , incluindo os Vingadores e várias piadas que movem o longa com um elenco sensacional que conta com nomes de peso como Emma Thompson e Liam Neeson. É justamente nesse terreno entre a nostalgia, referências e piadas que o filme tenta encontrar o seu lugar. O atores fazem o que podem com o roteiro raso e simples que o projeto apresenta, o vilão é muito previsível e os efeitos são bem convincentes. Não que os outros longas da franquia sejam clássicos shakespeareanos, mas sempre tinham algo novo a nós apresentar. A sensação aqui é de vazio, de que embora as coisas estejam em seus lugares...porém falta alguma coisa.


O filme não é ruim, chega a ser divertido e provoca algumas risadas na plateia, mas se comparado aos filmes anteriores ele deixa a desejar. MIB Internacional não se propõem a se aprofundar em seu próprio título ao contrário do que a campanha publicitária pregava. Seria legal ver como funciona as agências nos países que o filme nos apresenta e, quando digo países, não são muitos. Três no máximo se contarmos a agência inglesa. Pra mim, isso é um exemplo da má execução do projeto.


Se MIB Internacional escapa de ser uma bomba total, é graças ao elenco que sustenta o filme do início ao fim. Eu veria a Tessa Thompson e o Chris Hemsworth contracenando por horas a fio, eles tem uma química maravilhosa como poucos atores tem e, confesso, essa franquia ainda tem muita lenha pra queimar. Isso, é claro, se os roteiristas resolverem trabalhar direito. Eu não me importaria em ver Will Smith e Tommy Lee Jones fazendo uma ponta em um eventual 5° filme da série ou que Emma Thompson participasse mais da ação. Sei lá, só queria que a criatividade dos roteiristas fosse tão rica e infinita quanto o universo...


PS: Sim, Sérgio Mallandro ( o artista e não o juiz 😃😃😃) faz uma pequena participação no filme, confirmando o que todos "sabiam". A Sony deveria ter chamado o Dr. Rey , o Rogério Skylab, ET de Varginha dentre outros para uma ponta na versão nacional do longa. 😂😂😂😂😂😂

The Boys, outra grata surpresa de 2019


Embora The Boys seja totalmente diferente de Watchmen, a comparação entre as duas será inevitável. A nova série do serviço de streaming Amazon Prime é muito bem feita, não tem cara de série televisiva e, sim , de cinema. Não li a Hq original de Garth Ennis e Darick Robertson mas, o resultado na tela cumpre o seu propósito de entreter e prender a atenção dos espectadores , destaque para a química e atuações primorosas do elenco cujos os nomes mais famosos são Karl Urban, Elizabeth Shue e Harry Joel Osment, sim o garoto de " O Sexto Sentido" já é um homem. Ele faz uma pequena participação na série, mas muito importante, é bom vê-lo nas telas novamente. Elizabeth Shue, que saudade dessa atriz, Shue encarna a ganância das corporações através de sua misteriosa personagem, e ela entrega uma boa performance até o final.


Mérito do roteiro da série escrito por Eric Kripke que não deixa o projeto arrastado, são apenas oito episódios de 50 minutos de duração e o espectador não sente as horas passarem. Ela explora como seria se os super-heróis vivessem no nosso mundo real e atual e agissem como celebridades e influenciadores digitais e quais seriam os impactos disso. Sim, Watchmen tratou disso de forma séria e adulta, The Boys trata o tema de uma forma diferente usando a sátira , o sarcasmo e o politicamente incorreto com a mesma violência da obra de Alan Moore. Em suma, Watchmen é uma obra-prima inquestionável mas, The Boys se mostrou uma grata surpresa num ano em que assisti "Dark" , "Stranger Things 3" e "Cobra Kai 2". O destaque da série pra mim é o 5° episódio onde Kripke expõe as estranhas do radicalismo cristão norte-americano e seus falsos profetas. O diálogo entre Bruto e um dono de barraca de feira é como se o roteirista estivesse gritando a hipocrisia daquele evento em si.


O embate entre os personagens de Karl Urban ( Billy Bruto ou Billy Butcher) e o Antony Starr ( Capitão Pátria ou Homelander) respectivamente é outro destaque da série. Urban costuma compor bem seus personagens e, aqui, não economiza na emoção e na cara de mal, por vezes me lembrou o tom do Wolverine e, confesso, se a Marvel o escolhesse para interpretar o personagem ele se sairia muito bem. Seu Billy Bruto é cheio de camadas que vão ficando mais claras a medida que a série avança. O mesmo podemos dizer da grande surpresa do elenco, o ator Antony Starr , ele entendeu a complexidade do Capitão Pátria, seu personagem navega no limite entre o charme, sedução e a loucura. Caso perdesse a mão o projeto perderia muito sendo que seu personagem é o líder da equipe de super heróis nessa visão distorcida do Superman.


Os personagens da série são uma versão dos personagens da DC Comics, mas vez ou outra vc reconhece algo da Marvel na tela ( percebam como certa personagem tem todas as características da X-23 do filme Logan de 2017 ) , essa foi a sensação que tive, um mundo que mistura esses dois universos e as consequências dele mas, engana-se quem pensa que a série é só sobre isso. The Boys é uma sátira sensacional as grandes corporações, os meios de comunicação e entretenimento, aos radicais/ estelionatários da fé, ao capitalismo ( sim, tá lá ), a paixão pela violência ( mesmo que a explore bastante) e aos políticos. A série vai desconstruindo o papel dos "super-heróis" em nossa sociedade, expondo os bastidores inescrupulosos dos que estão no poder, e tecendo uma analogia à atual era das pós-verdades. Mesmo sendo uma crítica direta aos EUA ela vale para muitos países. No final, se vc gostou de Watchmen vai curtir essa série, agora se vc espera mais do mesmo do mundo dos super heróis , vai quebrar a cara.


PS: Essa é pra quem curte quadrinho nacional, o visual do Capitão Pátria me lembrou o do herói brazuca Capitão Sete.


A segunda temporada da série já foi confirmada pela Amazon, as gravações estão acontecendo mas, a série ainda não tem data oficial de estreia.

"Rocketman" é tudo que "Bohemian Rhapsody" não teve coragem de ser


Ontem a noite assisti, novamente, "Rocketman" a cinebiografia do astro Elton John e, poxa vida, que filme. De todos os erros, um dos grandes pecados de "Bohemian Rhapsody" foi não responder quem foi Freddie Mercury ( Rami Malek ). Saí da sessão com a sensação de que havia visto a versão midiática do artista/banda e de que o longa não tinha o menor interesse em se aprofundar nisso. Depois, li que o longa havia sido produzido por Brian May e Roger Taylor ( membros originais do Queen), e que eles tinham vetado grande parte da polêmica vida de Mercury e da banda. Isso explicou a saída do melhor Freddie Mercury que jamais veremos nas telas: Sacha Baron Cohen. O longa valeu pela nostalgia.

O mesmo não acontece em "Rocketman" , o longa é puro estudo de personagem e mergulha na alma do artista tentando descobrir quem ele realmente é. Quem é Reginald Kenneth Dwight ? Sim, o roteiro se preocupa em responder essa questão e com bastante interesse. Todos os conflitos do personagem estão lá, escancarados na tela, seus medos, angústias, inseguranças, a descoberta da homossexualidade (e a aceitação dela), amores, dores, arrogância, excessos, complexos, carências, vícios, talento , etc, etc, etc, etc... e sua música. O artista fez questão de não se esconder de seu público e aprovou o roteiro baseado em sua vida. Como o próprio Elton John comentou: “Eu não levei uma vida apropriada para menores”.

Assim acompanhamos o conflito familiar crescer na tela, a busca por aceitação, a entrada na escola de música, o encontro de almas com o seu parceiro Bernie Taupin ( brilhantemente vivido por Jamie Bell ), o sucesso, os amores, o vício , a queda e ascensão de Elton John que, aqui, ganha vida pelo belo trabalho de Taron Egerton que canta TODAS as músicas do longa sob a direção apurada de Dexter Fletcher ( que finalizou o longa do Queen). A diferença é que, sem a pressão que "Bohemian Rhapsody" sofreu por parte de membros da banda, Fletcher consegue estabelecer uma conexão íntima com o público ao decidir não esconder os "defeitos" de seu protagonista e transformou a sua narrativa em algo digno do artista retratado.

E se você notou que usei muito o termo "não esconder", é pq esse cuidado com a veracidade dos fatos refletiu na qualidade do longa, se Malek ganhou o Oscar pelo trabalho em "Bohemian Rhapsody", o trio Egerton/Fletcher/Elton John também merecem indicações em todos os prêmios que virão. A performance de Taron Egerton é cheia de carisma , detalhes e um cuidado que, novamente, refletem o talento na tela. Destaque especial para as crianças (Kit Connor e Matthew Illesley) que interpretam o artista e que todas as cenas me emocionaram, em particular uma das últimas cenas na reabilitação me levou as lágrimas. No fundo , "Rocketman" é tudo que "Bohemian Rhapsody" não teve coragem de ser. Fico feliz pelo Elton e triste pelo Freddie, ele merecia mais.