terça-feira, 27 de agosto de 2019

"Rocketman" é tudo que "Bohemian Rhapsody" não teve coragem de ser


Ontem a noite assisti, novamente, "Rocketman" a cinebiografia do astro Elton John e, poxa vida, que filme. De todos os erros, um dos grandes pecados de "Bohemian Rhapsody" foi não responder quem foi Freddie Mercury ( Rami Malek ). Saí da sessão com a sensação de que havia visto a versão midiática do artista/banda e de que o longa não tinha o menor interesse em se aprofundar nisso. Depois, li que o longa havia sido produzido por Brian May e Roger Taylor ( membros originais do Queen), e que eles tinham vetado grande parte da polêmica vida de Mercury e da banda. Isso explicou a saída do melhor Freddie Mercury que jamais veremos nas telas: Sacha Baron Cohen. O longa valeu pela nostalgia.

O mesmo não acontece em "Rocketman" , o longa é puro estudo de personagem e mergulha na alma do artista tentando descobrir quem ele realmente é. Quem é Reginald Kenneth Dwight ? Sim, o roteiro se preocupa em responder essa questão e com bastante interesse. Todos os conflitos do personagem estão lá, escancarados na tela, seus medos, angústias, inseguranças, a descoberta da homossexualidade (e a aceitação dela), amores, dores, arrogância, excessos, complexos, carências, vícios, talento , etc, etc, etc, etc... e sua música. O artista fez questão de não se esconder de seu público e aprovou o roteiro baseado em sua vida. Como o próprio Elton John comentou: “Eu não levei uma vida apropriada para menores”.

Assim acompanhamos o conflito familiar crescer na tela, a busca por aceitação, a entrada na escola de música, o encontro de almas com o seu parceiro Bernie Taupin ( brilhantemente vivido por Jamie Bell ), o sucesso, os amores, o vício , a queda e ascensão de Elton John que, aqui, ganha vida pelo belo trabalho de Taron Egerton que canta TODAS as músicas do longa sob a direção apurada de Dexter Fletcher ( que finalizou o longa do Queen). A diferença é que, sem a pressão que "Bohemian Rhapsody" sofreu por parte de membros da banda, Fletcher consegue estabelecer uma conexão íntima com o público ao decidir não esconder os "defeitos" de seu protagonista e transformou a sua narrativa em algo digno do artista retratado.

E se você notou que usei muito o termo "não esconder", é pq esse cuidado com a veracidade dos fatos refletiu na qualidade do longa, se Malek ganhou o Oscar pelo trabalho em "Bohemian Rhapsody", o trio Egerton/Fletcher/Elton John também merecem indicações em todos os prêmios que virão. A performance de Taron Egerton é cheia de carisma , detalhes e um cuidado que, novamente, refletem o talento na tela. Destaque especial para as crianças (Kit Connor e Matthew Illesley) que interpretam o artista e que todas as cenas me emocionaram, em particular uma das últimas cenas na reabilitação me levou as lágrimas. No fundo , "Rocketman" é tudo que "Bohemian Rhapsody" não teve coragem de ser. Fico feliz pelo Elton e triste pelo Freddie, ele merecia mais.
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O 1º TAKE é um espaço criado para dividir com os leitores assuntos interessantes sobre música,séries, cinema, teatro e arte em geral. Blog editado pelo louco Walther Jr. ,um espectador apaixonado por cinema,teatro,música,cerveja, vinho,pizza,pão na chapa,churrasco,lasanha,empada,pão de queijo... Ou seja,sou normal como todo mundo, não esperem nada profissional por aqui. Forte abraço e um viva a sétima arte.

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