quarta-feira, 1 de maio de 2019

Ausência



Ausência

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 30 de abril de 2019

Fugindo dos seres perfeitos



Fugindo dos ditos "seres perfeitos" e de seus padrões pré-impostos . Aos seus olhos, tudo que não se encaixa em seus "selos de qualidade" é tido como anormal, feio e marginal. Não há espaço pra nada que se aproxime do que é ser humano, suas dores, angústias e pequenas felicidades. Através de seus "padrões e selos de qualidade " abre-se espaço para atitudes repugnantes como o preconceito e suas diversas ramificações.
Nao me julgo perfeito e prefiro ficar do lado de cá...

sábado, 27 de abril de 2019

Vingadores : Ultimato é uma declaração de amor ao mundo nerd


Vingadores : Ultimato é INCRÍVEL. Não tenho outra palavra para defini-lo e , é muito dificil dizer algo sobre o filme sem dar spoiler , pq o roteiro é estruturado e costura muito bem as pontas soltas dos principais filmes da série de 22 filmes e qualquer detalhe pode estragar a experiência de quem é fã da saga do Infinito. Apenas esqueça certas escolhas do roteiro que poderão abrir espaço para discussões que, com certeza, dividirá opiniões . A direção dos irmãos Russo é bem feita e uma puta declaração de amor ao universo Marvel tanto do cinema quanto dos quadrinhos. E tudo isso feito com muito cuidado e respeito ao material original.



O carinho está lá estampado na tela, o fã mais atento irá reconhecer certos objetos clássicos nos cenários, figurinos e nas frases ditas pelos personagens que dialogam diretamente com aquela criança interior que cresceu lendo aquelas histórias . As cenas de ação são sensacionais e ficarão na memória dos fãs por anos a fio. A edição não é enfadonha e realmente ajuda a colocar a trama pra frente fazendo com que o filme não tenha sensação de ser longo. E falo sério, a sensação é que o filme não parece ter as quase 3 horas de duração, ponto para equipe e a direção do longa. Outro ponto positivo é a química do elenco, de TODOS eles, é um filme de relações pessoais e propósito de vida e nisso, Vingadores: Ultimato dá um show. Esse é o coração do filme.



Cada geração tem um grande filme que marcou a cultura pop , assim como foi o caso de "Star Wars: Uma Nova Esperança" em 1977, "Matrix" em 1999 , a trilogia " O Senhor dos Anéis "  e a saga "Harry Potter" no começo da década de 2000. E Ultimato é, sem dúvida, a conclusão de um projeto ambicioso de uma editora que, há uns 20 anos, sequer tinha grana para bancar seu próprio filme, os direitos de seus personagens estavam espalhados em estúdios diferentes e que nasceu há 11 anos, graças a coragem de alguns, a visão de um diretor ousado e a entrega de um ator talentoso e muito desacreditado na época. O resultado de tanta dedicação é um filme cheio de alma e coração que, com a sua boa narrativa recheada de fan service, conseguiu ser uma carta de amor ao mundo nerd.

5/5 ⭐⭐⭐⭐⭐

terça-feira, 23 de abril de 2019

Aqui não existe almoço grátis!


"Aqui não existe almoço grátis"
(por Hector Babenco, diretor de 'Pixote' e 'Ironweed')

O ano era 1985, tínhamos recebido o convite para participar da mostra competitiva do Festival de Cannes com meu filme “O Beijo da Mulher Aranha”. Não tínhamos recursos para fazer as cópias nem as legendas em francês, conforme nos foi pedido pelo festival.

Procuramos um “partner” que financiasse a finalização do filme e que bancasse as despesas. Depois de várias tentativas, surgiu um que manifestou real interesse e obviamente queria ver o filme.

Marcamos uma cabine para fazer a projeção e, no horário e no dia combinados, lá fui eu para Los Angeles. Quando cheguei para a projeção, qual não foi a minha surpresa ao ver que a cabine estava ocupada por um outro filme que tinha acabado de começar para Jack Nicholson e convidados.

Com cara de pato, pedi desculpas e aguardamos por duas horas, até o filme terminar. Antes de começar a projeção, fui ao banheiro. Enquanto eu usava o ready-made do Marcel Duchamp, olhei para o lado e vi que tinha um companheiro de atividade: Jack Nicholson, também esvaziando sua bexiga.

Ele olhou para mim e perguntou quem eu era. Eu disse quem era e o que estava fazendo ali. Ele disse que tinha lido “Boquinhas Pintadas”, do Manuel Puig (escritor argentino, autor do livro que inspirou o filme “O Beijo da Mulher Aranha”), e que gostaria de ver o meu filme. Era para ligar e combinar.

Cheio de receios, telefonei na manhã seguinte, e a sua assistente já me deu as datas dele e pediu o endereço do lugar onde deveria apanhar as latas do filme. A exibição aconteceu: estavam presentes Jack, uma amiga dele e um amigo.



No fim da sessão, fui convidado para jantar. Nada foi dito a respeito do filme. Achei estranho. Quando terminamos a refeição, agradeci pela noite e nos encaminhamos para a porta. Eu quis ser o último a sair porque o meu carro era a opção mais econômica de aluguel que pude encontrar. Chegou uma limusine Mercedes e lá se foi o Jack. Depois, num reluzente Rolls-Royce conversível, se foi o outro.

Quando chegou meu modesto veículo, saiu do restaurante um garçom que se aproximou de mim e perguntou se eu estava jantando com mr. Nicholson. Disse que sim. Ele replicou que ninguém tinha pagado a conta. Puto da vida, tirei meu único cartão de crédito e honrei o pasto da noite. Entendi o real significado da expressão “there is not free lunch in this town” (não existe almoço grátis nesta cidade).

Na manhã seguinte, fui acordado pela campainha. Um chofer me entregou, em nome do restaurante, duas garrafas de champanhe Cristal e um envelope com a minha folhinha azul do cartão rasgada e um bilhete pedindo desculpas pelo acontecido.

O maître daquela noite era novo e não sabia que, quando mr. Nicholson janta lá, a conta é mandada para o escritório dele.

Os anos se passaram e, quando o chamei para uma leitura do roteiro que tinha feito com William Kennedy de seu romance “Ironweed”, ele imediatamente se prontificou a fazê-la em sua casa. No fim do encontro, fez alguns comentários que me levaram a entender que ele já conhecia o livro muito bem. O resto é história.

Anos depois, em 1994, o American Film Institute organizou uma cerimônia para entregar o Life Achievement Award ao Jack. Recebo um convite para ser um dos cinco a dizer algo sobre ele, durante a cerimônia. Reconheci naquele jantar homens e mulheres que desde moleque vejo no escurinho do cinema.

Cada vez que as luzes se apagavam, um “spotlight” iluminava quem falava. O primeiro foi Warren Beatty, depois Sean Penn, Milos Forman e, a seguir, Roman Polanski via satélite, até que chegou a minha vez -e eu continuava sem saber o que falar. Como dizer da importância de ter trabalhado com ele e do privilégio de compartilhar uma amizade que dura até hoje?

Contei a história do nosso primeiro encontro sob o olhar perplexo do Jack, que não entendia aonde eu queria chegar. Quando chegou o momento de “o senhor estava sentado na mesa do mr. Nicholson? É que ninguém pagou a conta”, a gargalhada foi gigantesca. Ainda hoje encontro alguém que se lembra daquela noite.

Saudoso HECTOR BABENCO, 67, é diretor dos filmes “Pixote: A Lei do Mais Fraco” (1981), “O Beijo da Mulher Aranha” (1985) e “Carandiru” (2003).

domingo, 14 de abril de 2019

Bibi Andersson (1935 — 2019)

Bibi Andersson (1935 — 2019)

Filosofia Nordestina



Filosofia Nordestina (Mírian Monte)

Perdoem-me a intromissão,
Mas tem razão o Ministério da Educação.
Se o nordestino continuar filosofando,
Será um disparate, será desumano!
Imagine se surgisse outro Graciliano,
Uma nova Raquel de Queiroz...
O que seria de nós?!
O Brasil perderia as estribeiras!
Já pensou se resgatarem a Nise da Silveira?
Ah, meu pai amado, meu Jorge Amado!
Nem cravo e canela resolvem a querela!
“Parem o mundo que quero descer”,
Quero consignar essa queixa,
Parafraseando Raul Seixas.
E se os estudantes falarem versos
Contarem prosas,
Ou citarem Rui Barbosa?
Ariano Suassuna que assuma essa ciranda,
Porque nem Pontes de Miranda
Conseguiria solucionar!
E nem se fale em José de Alencar:
Imagine se “O Guarani” fosse uma trilogia!
Teríamos versos em tupi, na poesia!
Vou encerrar com Tobias Barreto,
Eu prometo!
Ou melhor seria com Castro Alves?
Que os anjos nos salvem!
Esse povo do Nordeste
É povo de muita sabedoria...
Imagina se nas escolas
Ensinarem filosofia?

domingo, 7 de abril de 2019

Atores que precisam sair da zona de conforto



Charlie Day, The Rock e Bruce Willis


Os três vem fazendo o mesmo papel há alguns anos, não sabemos o motivo pelo qual aceitam esses projetos. Seria medo de se arriscar ? seriam péssimos agentes ? ou apenas uma desculpa para ganhar mais dinheiro? Não sabemos . O fato é que os três nomes dessa lista precisam urgentemente de bons projetos ou então, serão fadados a se tornar versões arrogantes, irritantes, tristes e musculosas do desperdiçado Nicolas Cage que nos últimos anos vem fazendo filmes tão idênticos que a única coisa que os distingue são as perucas que ele usa em cada projeto.


O primeiro sempre interpreta o sujeito medroso/ nervoso / ansioso , um tipo que o ator canadense Martin Short fazia com maestria nos anos 80 em filmes como "Viagem Insólita (1987) ".  Da lista, Charlie Day é o que mais me irrita, se olharmos com atenção seus personagens Dale Arbus em Quero Matar meu Chefe ( 2011), Dr. Newton Geiszler em Círculo de Fogo (2013) , Andy Campbell em Te Pego na Saída (2017) e até mesmo a sua participação no reboot de Férias Frustradas (2015) , veremos que Day interpreta basicamente O MESMO PERSONAGEM. Até mesmo seus colegas de ratpack andam se arriscando, Jason Bateman, por exemplo, esteve ótimo no subestimado "Sete Dias Sem Fim (2014)" e, mesmo não sendo do mesmo grupo, alguém viu Adam Sandler em Embriagado de Amor (2002), Espanglês (2004) , Reine sobre Mim (2007) ou Os Meyerowitz: Família Não Se Escolhe (2017) ?


O segundo é super carismático , mas se perdeu nos filmes de ação, tem sido difícil diferenciar um do outro, já que todos parecem iguais. Não acredita? Vejam os trailers. O reboot de "Jumanji (1996)" foi bem legal e só. Vejam bem, até mesmo Arnold Schwarzenegger fugiu do óbvio ao fazer filmes como "Irmãos Gêmeos (1988)" , "Um Tira no Jardim de Infância (1990)" e "Júnior(1994)".  Ok,  Dwayne Johnson / The Rock fez "O Fada do Dente" , "Um Espião e Meio" e brincou com sua persona em uma ponta no filme "Os Outros Caras", mas sério... deem uma olhada nos outros filmes, The Rock não tem um personagem marcante como um "John McClane" em sua carreira como é o caso do próximo nome dessa lista.



O último, mas não menos importante. Dos três é o único que se arrisca de vez em quando, Willis mudou o cinema de ação com o sucesso "Duro de Matar (1988)", 
John McClane  é um dos 
personagens mais marcantes do cinema de ação, Willis chegou a fazer coisas novas no final dos anos 90 com  "Pulp Fiction- Tempo de Violência(1994)" , "O Sexto Sentido(1999)" e "Corpo Fechado(2001)" ambos do diretor M. Night Shyamalan, passou a década de 2000 com poucos filmes que fugiam da mesmice , destaque para "Sin City(2005)" , entrou na década seguinte com os bons "Looper ( 2012)" e "Moonrise Kingdom(2012)" fez mais filmes menores e prometeu uma boa performance este ano com o filme "Vidro (2019)", também de Shyamalan mas, não conseguiu ( na minha opinião) repetir o bom trabalho do filme de 2001. 



Willis é um astro cuja carreira está consolidada há anos mas, assim como os demais, de alguns anos para cá ele vem se repetindo em papéis que lembram muito o John McClane que lhe deu fama mundial . O ator já mostrou seu talento nas mãos de nomes como Wes Anderson Shyamalan e Tarantino , só falta ele voltar a escolher bons roteiros. Vide a parceria de ‎Mickey Rourke e Darren Aronofsky que resultou no filme O Lutador ( The Wrestler, EUA, 2008 ) que foi aclamado pelo público e pela crítica. Aos três nomes da lista, falta a coragem não apenas de Rourke, mas de um Jim Carrey que, mesmo sendo um gênio em seu segmento, conseguiu quebrar a barreira em filmes sérios e só não foi aclamado no Oscar pela mesma teimosia dessa premiação.